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Entrevista com Vijay Vaitheeswaran

Reproduzimos hoje uma entrevista muito interessante que Vijay Vaitheeswaran (especialista em Meio Ambiente e Energia da The Economist publicou o livro “Power to the People”) deu à revista Época. Nela ele fala sobre o alto consumo de energia "suja" e sobre as possibilidades de desenvolvimento de energia limpa. Faz uma crítica à China (maior emissora de CO2 do mundo) que se não mudar sua postura de contruir usinas movidas a carvão vai afundar o planeta no aquecimento global e ao uso exagerado do petróleo que é financiador do terrorismo, argumenta ainda que o Brasil é uma boa pedida com o etanol. Leia a entrevista na íntegra:

Vijay Vaitheeswaran
ÉPOCA - Você está otimista ou pessimista sobre a possibilidade de termos um futuro menos poluente para o planeta?
Vijay Vaitheeswaran - Há três sérios problemas energéticos ameaçando o planeta. Um é a forma como usamos energia, que cria problemas ambientais graves, como o aquecimento global. Em segundo lugar, os países estão preocupados com a segurança do fornecimento, devido à concentração do petróleo no Oriente Médio. E um terceiro ponto, do qual as pessoas nunca se lembram, é a existência de um contingente de quase duas bilhões de pessoas sem acesso a energia, seja eletricidade ou sejam combustíveis limpos. Vivem isolados da modernidade e na pobreza. O sistema energético mundial, montado em cima de petróleo e carvão, é um fracasso e é insustentável. Por outro lado, vivemos num tempo de muitas inovações e oportunidades em energia. Mais do que tivemos nos últimos 100 anos, desde que Thomas Edson inventou a lâmpada e desde que os primeiros carros motorizados apareceram. É uma era de grande inovação em energia sustentável, o que me fez otimista sobre as soluções.

ÉPOCA - No seu livro, o senhor diz temer que China e Índia optem por um modelo de crescimento semelhante ao que os países ricos usaram até agora,mas esses países continuam altamente dependentes de carvão.

Vaitheeswaran - A China também está extremamente preocupada com poluição local, por causa das repercussões na saúde da população e tem recorrido a tecnologias interessantes para tentar contornar o problema. A usina hidrelétrica Três Gargantas é o projeto mais conhecido, mas há dez ou doze usinas nucleares em andamento. Há projetos de usinas eólicas. Mas os chineses também estão construindo mais de uma grande usina de carvão por semana, usando energia suja. São 70 por ano. Precisam de tanta energia, que apostam em tudo. O problema é o acesso a carvão em abundância e barato. Se a China continuar construindo usinas a carvão nesse ritmo, pelos próximos 20 anos, não há esperança para o mundo combater o aquecimento global. Será impossível.

ÉPOCA - O senhor diz também que os americanos são viciados em petróleo. Há cura?

Vaitheeswaran - Logo depois dos atentados do 11 de setembro, escrevi uma capa da Economist que era “Viciados em Petróleo”. Entre outros argumentos eu dizia que, ao comprar petróleo da Arábia Saudita, os americanos financiavam também o terrorismo. Só quando nos livrarmos do petróleo, estaremos livres de problemas assim. É aí que entra o Brasil. Uma das mais promissoras soluções para reduzir a dependência mundial do petróleo é o etanol. Não que o mundo vá usar 100% álcool e zero petróleo. O Brasil não tem como abastecer o mundo, mas álcool terá um papel muito importante ao reduzir nossa dependência do petróleo. Junto com outros combustíveis alternativos, como o biodiesel, e até carros movidos a hidrogênio. É por aí que podemos chegar a um mundo que enxergue além do petróleo.

ÉPOCA - O petróleo saltou de U S$10 para US$ 70 em apenas seis anos. Luz é um bem cada vez mais caro. O custo da eletricidade pode sofrer saltos assim?

Vaitheeswaran - O mundo tem que se preparar para uma era de preços muito altos. Um dos temas mais preocupantes, e que abordo no meu livro, é a forma como alguns governos subsidiam a eletricidade, sobretudo países em desenvolvimento. A Índia, onde nasci, dá luz de graça ou altamente subsidiada. Parece muito bom para a população pobre, certo? É que os políticos dizem. Mas o que acontece é que as pessoas realmente pobres sequer têm acesso a eletricidade. Subsidiar eletricidade é promover um terrível desperdício de um recurso escaso. Mais ainda: faz as pessoas acreditarem que energia é barata e que, portanto, pode ser desperdiçada, quando, na verdade, é um bem extremamente precioso, que precisa ser usado com parcimônia. O subsídio é o melhor caminho para o uso ineficiente da eletricidade.

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